
A esperteza já fez muitas vítimas. Algumas delas, entre os próprios espertos. O estilo com que um agente político se porta diante de aliados e adversários condiciona em grande parte o modo como estes se relacionam com ele.
Foi de um dos mais qualificados colaboradores deles mesmo que  partiu a melhor definição sobre o estilo político dos irmãos Cid e Ciro,  cuja principal característica sempre foi a ambiguidade: “é uma faca de  dois Gomes”.
 Depois de muito os prover com notáveis ganhos, o feitiço cobra  agora a fatura ao impor aos feiticeiros o ônus de suas oferendas: não  parece haver mais espaço para Ciro Gomes no condomínio do governismo  lulista.
 Ao afastar-se dos “liberais” tucanos sem alinhar-se com a  “esquerda” petista, Ciro seduziu o país como uma liderança emergente que  projetava para si uma imagem compatível com a expectativa de grande  parcela dos eleitores.
 Surgia como alguém cuja missão seria colocar o interesse público  acima das querelas nefastas de políticos profissionais e núcleos  corporativos. Alguém capaz de olhar para a nação, antes de mirar o  interesse dos seus pares.
 O mais é história, vocês sabem. Contido pelas limitações de seu  horizonte existencial, deixou escorrer entre os dedos a boa fortuna  para, logo adiante, abdicar de uma patrimonial potência: a afiada língua  e sua independência.
 Ciro vendeu seus bens “na baixa”. Para Lula, saiu barato o garrote,  atado em alguns cordões onde pendurar um esquema mínimo de influência. A  verdade é que o presidente “botou na roda” o oportunismo de Ciro.
 Agora, notícias dão conta de que está completo o serviço com a  exclusão de seu nome do primeiro escalão do governo que inicia. O nome  que isso tem, não quero pronunciar aqui – meus três leitores reagem a  termos chulos.
 Mesmo porque, tais termos são profusos na prosopopéia de Ciro  Gomes, não lhe faltando, portanto, meios para que ele mesmo diga com  todas as letras a natureza da operação que atingiu em cheio o seu já  decrescente prestígio.
 Mas basta observar a votação obtida pela presidente eleita no Ceará  – e perceber a relação entre tal performance e a ampla coligação  formada em seu nome pelo governador, irmão dele – para entender a  extensão do golpe.
 Ciro não será ministro? Isso não é o mais importante. Pior, é  assistir ao espetáculo de submissão explícita sem ver os cearenses que  essa turma toda representa contemplados com um tratamento compatível com  o apoio dado.
 Digam do ex-governador Tasso Jereissati o que quiserem (eu mesmo  tenho dito muito e assino sempre), mas o professor Fernando Henrique  Cardoso, quando presidente da República, não levava o Ceará na conversa.
 Ali, apesar de companheiros com visão comum, a relação entre apoio  oferecido pelo governador e sua bancada e a contrapartida de  investimentos aplicados no estado era uma evidência de todos os dias. A  lista é pródiga.
  Mas, agora, eu vos pergunto: sim, cadê?
Por Ricardo Alcântara,
Por Ricardo Alcântara,
Publicitário e poeta.
Como dizia meu vizinho da esquerda: "falou e disse" !!!!
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