terça-feira, 6 de julho de 2010

Decidido a comparar currículos, Serra acumula cargos e diplomas

Foto de Lula e Serra, em 2002, no Debate da Rede Globo

Em Brasília, tucano participou da Constituinte, foi líder do PSDB na Câmara, senador e ministro de Fernando Henrique Cardoso.


Assim que formalizou sua candidatura presidencial na eleição deste ano, José Serra fez questão de deixar claro que construiu uma trajetória bem diferente da de sua adversária petista Dilma Rousseff.

"Não comecei ontem e não caí de pára-quedas", provocou o ex-governador, no discurso que fez durante a convenção nacional do PSDB, onde homologou no mês passado sua entrada na disputa pelo Palácio do Planalto. O currículo hoje ostentado pelo tucano teve início na União Nacional dos Estudantes. Ele foi o último presidente da entidade antes do Golpe Militar, em 1964, quando deixou o Brasil.

A militância o levou ao exílio por 14 anos. Foi longe do Brasil que Serra casou-se com Mônica Allende Ledezma, com quem teve dois filhos, fez pós-graduação em Economia na Universidade do Chile. Foi lá também que avançou na construção da carreira política e acadêmica que hoje apresenta como diferencial. Conheceu melhor Fernando Henrique Cardoso, na época professor de um curso da Cepal, a Comissão Econômica para a América Latina da ONU. Do Chile, partiu para os Estados Unidos, onde fez doutorado e lecionou na Universidade de Princeton. Ao regressar ao Brasil, em 1978, foi dar aulas de economia na Universidade de Campinas (Unicamp).

Na década de 80, início da redemocratização, Serra assumiu a Secretaria da Economia e Planejamento do governo paulista comandado por Franco Montoro, do PMDB, sigla de onde sairia boa parte dos nomes que fundaram o PSDB. Ele orgulha-se de ter reorganizado, ao lado do economista João Sayad, atual presidente da Fundação Padre Anchieta, as finanças do Estado.

Em 1986, Serra foi um dos 559 parlamentares eleitos para criar a nova Constituição. Relatou capítulos do sistema financeiro, orçamentário e tributário. Também apresentou a emenda que deu origem ao Fundo de Amparo do Trabalhador, que viabilizou o pagamento do seguro-desemprego. Defensor do sistema parlamentarista, Serra considera uma “falha da Constituição” a aprovação do presidencialismo, do sistema eleitoral proporcional para deputados e o que ele chama de “anarquia partidária”.

Em 1988, ano de fundação do PSDB, Serra perdeu a eleição para a Prefeitura de São Paulo. Em 1989, apoiou Lula na eleição para a Presidência contra Fernando Collor. Um ano depois, foi reeleito deputado federal como o mais votado no Estado e o segundo no Brasil.

Quando Fernando Henrique Cardoso se tornou ministro da Fazenda e implantou o Plano Real, no governo de Itamar Franco (que assumiria após o impeachment de Collor), Serra era líder do PSDB na Câmara. Na eleição de 1994, FHC foi eleito presidente e, Serra, senador. No entanto, não chegou a assumir a cadeira e aceitou o convite para ser ministro do Planejamento. Em 1996, foi novamente derrotado na corrida à Prefeitura de São Paulo e retornou ao Senado, até ser indicado ao Ministério da Saúde.

A passagem pelo Ministério da Saúde, entre 1998 e 2002, Serra – que tem fama de hipocondríaco – ampliou ainda mais seus conhecimentos na área. “Não tenho mania de doença, logo não devo ser hipocondríaco. Mas a lenda é forte, e percebi que a população achava simpático ter um ministro da Saúde hipocondríaco. Aumentava a empatia. Não me dei mais o trabalho de negar”, disse. Pode ser lenda, mas Serra anda com álcool gel no bolso para limpar as mãos e conhece remédios e receitas como poucos.

À frente da pasta, o tucano enfrentou e venceu batalhas pela implantação dos genéricos e pela quebra de patentes de remédios, entre eles os receitados a portadores do HIV, vírus da Aids. “O Programa Saúde da Família é talvez mais importante do que toda a questão dos medicamentos, embora em saúde pública seja difícil dizer que uma coisa é mais importante do que outra. Fazendo um paralelo com o organismo humano, não se pode dizer que o coração é mais importante do que o pulmão, ou o pulmão do que o fígado, ou o fígado do que os rins. São todas partes indispensáveis”, analisa Serra. Ao deixar a pasta, ele foi incluído na lista do “Ministério Mundial dos Sonhos” pela revista World Link, do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.

Com o fim do governo tucano, em 2002, Serra candidatou-se à Presidência da República e foi derrotado no segundo turno por Lula. Em 2003, assumiu a presidência nacional do PSDB. No ano seguinte, foi eleito prefeito de São Paulo. Um ano e três meses após tomar posse, entregou o cargo para seu vice, o prefeito Gilberto Kassab (DEM), para concorrer ao governo.

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