terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Ceará sem voz. Ciro fora do governo Dilma



A esperteza já fez muitas vítimas. Algumas delas, entre os próprios espertos. O estilo com que um agente político se porta diante de aliados e adversários condiciona em grande parte o modo como estes se relacionam com ele.
Foi de um dos mais qualificados colaboradores deles mesmo que partiu a melhor definição sobre o estilo político dos irmãos Cid e Ciro, cuja principal característica sempre foi a ambiguidade: “é uma faca de dois Gomes”.
Depois de muito os prover com notáveis ganhos, o feitiço cobra agora a fatura ao impor aos feiticeiros o ônus de suas oferendas: não parece haver mais espaço para Ciro Gomes no condomínio do governismo lulista.
Ao afastar-se dos “liberais” tucanos sem alinhar-se com a “esquerda” petista, Ciro seduziu o país como uma liderança emergente que projetava para si uma imagem compatível com a expectativa de grande parcela dos eleitores.
Surgia como alguém cuja missão seria colocar o interesse público acima das querelas nefastas de políticos profissionais e núcleos corporativos. Alguém capaz de olhar para a nação, antes de mirar o interesse dos seus pares.
O mais é história, vocês sabem. Contido pelas limitações de seu horizonte existencial, deixou escorrer entre os dedos a boa fortuna para, logo adiante, abdicar de uma patrimonial potência: a afiada língua e sua independência.
Ciro vendeu seus bens “na baixa”. Para Lula, saiu barato o garrote, atado em alguns cordões onde pendurar um esquema mínimo de influência. A verdade é que o presidente “botou na roda” o oportunismo de Ciro.
Agora, notícias dão conta de que está completo o serviço com a exclusão de seu nome do primeiro escalão do governo que inicia. O nome que isso tem, não quero pronunciar aqui – meus três leitores reagem a termos chulos.
Mesmo porque, tais termos são profusos na prosopopéia de Ciro Gomes, não lhe faltando, portanto, meios para que ele mesmo diga com todas as letras a natureza da operação que atingiu em cheio o seu já decrescente prestígio.
Mas basta observar a votação obtida pela presidente eleita no Ceará – e perceber a relação entre tal performance e a ampla coligação formada em seu nome pelo governador, irmão dele – para entender a extensão do golpe.
Ciro não será ministro? Isso não é o mais importante. Pior, é assistir ao espetáculo de submissão explícita sem ver os cearenses que essa turma toda representa contemplados com um tratamento compatível com o apoio dado.
Digam do ex-governador Tasso Jereissati o que quiserem (eu mesmo tenho dito muito e assino sempre), mas o professor Fernando Henrique Cardoso, quando presidente da República, não levava o Ceará na conversa.
Ali, apesar de companheiros com visão comum, a relação entre apoio oferecido pelo governador e sua bancada e a contrapartida de investimentos aplicados no estado era uma evidência de todos os dias. A lista é pródiga.
Mas, agora, eu vos pergunto: sim, cadê?
Por Ricardo Alcântara,
Publicitário e poeta.

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