Discurso de ontem do Padre Zé, na Câmara dos Deputados, denuncia o descaso com as obras na BR 222.
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, disse o grande
Benjamim Franklin que “quem nada faz, está prestes a fazer o mal”.
Palavras duras, mas sábias.
Movidas por esse ânimo, há cerca de um ano, no Ceará, centenas
de pessoas tomavam parte de um protesto original, pacífico, concebido e
organizado para chamar a atenção do governo federal: o “Rally na
BR-222”.
Mas o que foi exatamente o Rally?
O Rally, Sr. Presidente, foi a viagem de uma enorme caravana de
veículos que partiu de Sobral e, depois de cento e quarenta quilômetros
enfrentando desvios e buracos pela BR-222, atingiu a cidade de Umirim,
no caminho para Fortaleza.
Tudo, para denunciar o descaso com que o Ministério dos
Transportes e o DNIT vinham tratando aquela rodovia e, por extensão, o
povo cearense.
A expedição contou com a participação do governador do Estado, de políticos locais e, principalmente, de muita gente do povo.
Notícias e mais notícias foram publicadas.
A expectativa, de todos, era que finalmente as coisas começariam a mudar.
Qual nada, Sr. Presidente.
Passadas doze luas, a verdade é que pouca coisa mudou. Os
problemas de tráfego no trecho entre Fortaleza e Sobral continuam vivos.
Obras em ritmo pachorrento e buracos às dúzias atormentam o viajante.
Ir de ônibus, de uma cidade à outra, hoje, leva mais de cinco
horas! Vejam, apenas para dar um exemplo, que de Brasília a Goiânia,
distância parecida - pouco mais de duzentos quilômetros – uma viagem em
ônibus comercial dura cerca de três horas, no máximo.
Como pode alguém se conformar com isso?
O povo do Ceará não se conforma.
Não se conforma, e demonstrou isso há alguns dias, à maneira do
aforismo de Franklin, interrompendo o trânsito na BR-222 por quase uma
hora, defronte o canteiro de obras da malfadada construtora Delta, uma
das três empresas responsáveis por tocar as obras de recuperação da
rodovia.
O mais irônico é que a Delta, prestes a desmoronar como um
castelo de cartas, é a companhia que cuida do trecho em estado mais
avançado de recuperação. Os trechos onde trabalham – ou deveriam
trabalhar - as construtoras Camter e Getel estão, salvo exceções, em
petição de miséria.
Por ali, numa cena que choca tanto pela indignidade da situação
como pela indiferença dos que deveriam combatê-la, crianças às pencas se
lançam na rodovia para tapar buracos com areia, em troca de moedas
lançadas pelos motoristas...
É triste, Sras. e Srs. Deputados.
Nem o Ceará nem lugar nenhum do Brasil merece passar por isso, em pleno século XXI.
Sr. Presidente, vivemos a era da comunicação, do intercâmbio, do
transporte, da velocidade, do contato. Que presente e que futuro podem
ter partes de nosso território que não contam sequer com uma
infraestrutura rodoviária decente?
É ocioso responder.
Sinceramente, não sei que forças, que circunstâncias hoje
impedem o governo federal de cumprir a contento a tarefa de zelar pelas
rodovias federais. Muito menos o que o faz tão débil ao lidar com a
recuperação da BR-222.
Falta dinheiro? Não creio, ou as obras nem teriam sido
licitadas. Falta planejamento? Não é razoável, ou seria o caso de
perguntar o que faz a enorme estrutura do DNIT. Falta fiscalização? É
bem possível, diante de tanta demora na execução das obras. Falta
cobrança? Talvez. Talvez um Rally não tenha sido o bastante. Talvez a
Presidente Dilma, grande incentivadora do crescimento e da modernização
de nossa infraestrutura, não tenha dito ainda umas verdades às pessoas
certas.
De minha parte, Sras. e Srs. Deputados, estejam certos de que
cobrança não faltará. Devo isso ao povo cearense. Devo isso ao povo
brasileiro e a esta Instituição, que se engrandece no exercício da
vigilância do uso do dinheiro público.
Não ficarei quieto.
O mal não passará.
Padre José Linhares
Muito obrigado.
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