quinta-feira, 28 de junho de 2012

PADRE ZÉ DENUNCIA OBRA DA BR 222


Discurso de ontem do Padre Zé, na Câmara dos Deputados, denuncia o descaso com as obras na BR 222.
 

Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, disse o grande Benjamim Franklin que “quem nada faz, está prestes a fazer o mal”.

Palavras duras, mas sábias.

Movidas por esse ânimo, há cerca de um ano, no Ceará, centenas de pessoas tomavam parte de um protesto original, pacífico, concebido e organizado para chamar a atenção do governo federal: o “Rally na BR-222”.

Mas o que foi exatamente o Rally?

O Rally, Sr. Presidente, foi a viagem de uma enorme caravana de veículos que partiu de Sobral e, depois de cento e quarenta quilômetros enfrentando desvios e buracos pela BR-222, atingiu a cidade de Umirim, no caminho para Fortaleza.

Tudo, para denunciar o descaso com que o Ministério dos Transportes e o DNIT vinham tratando aquela rodovia e, por extensão, o povo cearense.

A expedição contou com a participação do governador do Estado, de políticos locais e, principalmente, de muita gente do povo.

Notícias e mais notícias foram publicadas.

A expectativa, de todos, era que finalmente as coisas começariam a mudar.

Qual nada, Sr. Presidente.

Passadas doze luas, a verdade é que pouca coisa mudou. Os problemas de tráfego no trecho entre Fortaleza e Sobral continuam vivos. Obras em ritmo pachorrento e buracos às dúzias atormentam o viajante.

Ir de ônibus, de uma cidade à outra, hoje, leva mais de cinco horas! Vejam, apenas para dar um exemplo, que de Brasília a Goiânia, distância parecida - pouco mais de duzentos quilômetros – uma viagem em ônibus comercial dura cerca de três horas, no máximo.

Como pode alguém se conformar com isso?

O povo do Ceará não se conforma.

Não se conforma, e demonstrou isso há alguns dias, à maneira do aforismo de Franklin, interrompendo o trânsito na BR-222 por quase uma hora, defronte o canteiro de obras da malfadada construtora Delta, uma das três empresas responsáveis por tocar as obras de recuperação da rodovia.

O mais irônico é que a Delta, prestes a desmoronar como um castelo de cartas, é a companhia que cuida do trecho em estado mais avançado de recuperação. Os trechos onde trabalham – ou deveriam trabalhar - as construtoras Camter e Getel estão, salvo exceções, em petição de miséria.

Por ali, numa cena que choca tanto pela indignidade da situação como pela indiferença dos que deveriam combatê-la, crianças às pencas se lançam na rodovia para tapar buracos com areia, em troca de moedas lançadas pelos motoristas...

É triste, Sras. e Srs. Deputados.

Nem o Ceará nem lugar nenhum do Brasil merece passar por isso, em pleno século XXI.

Sr. Presidente, vivemos a era da comunicação, do intercâmbio, do transporte, da velocidade, do contato. Que presente e que futuro podem ter partes de nosso território que não contam sequer com uma infraestrutura rodoviária decente?

É ocioso responder.

Sinceramente, não sei que forças, que circunstâncias hoje impedem o governo federal de cumprir a contento a tarefa de zelar pelas rodovias federais. Muito menos o que o faz tão débil ao lidar com a recuperação da BR-222.

Falta dinheiro? Não creio, ou as obras nem teriam sido licitadas. Falta planejamento? Não é razoável, ou seria o caso de perguntar o que faz a enorme estrutura do DNIT. Falta fiscalização? É bem possível, diante de tanta demora na execução das obras. Falta cobrança? Talvez. Talvez um Rally não tenha sido o bastante. Talvez a Presidente Dilma, grande incentivadora do crescimento e da modernização de nossa infraestrutura, não tenha dito ainda umas verdades às pessoas certas.

De minha parte, Sras. e Srs. Deputados, estejam certos de que cobrança não faltará. Devo isso ao povo cearense. Devo isso ao povo brasileiro e a esta Instituição, que se engrandece no exercício da vigilância do uso do dinheiro público.

Não ficarei quieto.

O mal não passará.

Padre José Linhares
Muito obrigado.

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