segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A PRIMEIRA DERROTA DE CID EM 2012


"O 3 de janeiro de 2012 ficará para a história como o dia em que o medo parou Fortaleza e várias cidades do Interior. Grevistas de qualquer categoria reclamam quando se fala dos prejuízos das paralisações. Como a coluna abordou em outras oportunidades, a reação é previsível, mas ignora que os transtornos causados pela interrupção da atividade são o principal fator para determinar o sucesso ou fracasso de um movimento. Se os funcionários deixam de trabalhar e não fazem falta, é sinal da pouca importância deles. Mas, muito pelo contrário, não há registro na história recente do Ceará de mobilização de trabalhadores que tenha provocado tamanho colapso quanto o que se viu na terça-feira. Se professores da rede pública param, as escolas privadas não deixam o problema chegar à parcela da população com mais voz e maior visibilidade. Se hospitais públicos fecham, os planos de saúde resolvem a demanda das classes média e alta. Mas não há segurança privada que compense a falta da Polícia. Na prática, houve greve geral forçada, movida pelo terror – que teve no silêncio das autoridades fator preponderante. Os policiais impuseram os termos do acordo goela abaixo do governo. O Palácio da Abolição ficou refém: ou cedia ou prolongava o caos. Entendia que os servidores agiam contra a lei, mas teve de aceitar, incondicionalmente, os termos que eles estabeleceram. Foi a primeira derrota da administração Cid Gomes. As sequelas são óbvias e inevitáveis. Ficou evidente a fraqueza da gestão, até então escondida sobre o escudo da ausência de contraponto. Também exposta ficou a omissão diante de tarefa intrínseca ao ato de governar: a comunicação com a população e o dever de mantê-la informada. O Estado foi ausente num momento crítico. Fazia muito tempo que uma postura governamental – ou falta dela – não causava tanto impacto sobre o cotidiano da população.

O DESAFIO NÃO RESOLVIDO
A área de segurança pública foi prioridade máxima nas promessas da campanha que elegeu Cid Gomes, em 2006. De lá para cá, a situação se agravou exponencialmente. Até agora, trata-se do maior fracasso da administração. Os dirigentes do setor estão desmoralizados, sem comando, sem rumo. Falta-lhes estatura para a tarefa. A ausência de ação permitiu que a situação chegasse ao ponto em que chegou. A atual administração fez provavelmente o maior investimento em policiamento da história do Ceará. Cid muitas vezes demonstra frustração com a ausência de resultado e se questiona o que mais haveria de ter feito. Poderia ter ouvido as críticas à qualidade desse gasto e debater se o dinheiro estava tendo o melhor destino. Afinal, não basta gastar, é preciso realizar a despesa certa. Além disso, nem só o dinheiro resolve. É necessária gestão. Nem só com o estilo “tarefeiro” ou “pé de boi” se dá rumo a uma área crítica. É imprescindível algum nível de formulação política para definir os rumos de uma área estratégica. Pensar, antes e para além de agir. Cid tem fracassado na prioridade que elegeu e que ajudou a elegê-lo. O modelo da segurança pública cearense está falido. Há três anos pela frente. Existe tempo para compensar o prejuízo. Mas é necessária drástica correção de rumos. Mas, para onde ir? O governo não demonstra saber. É bom que descubra depressa.

ERROS QUE A VITÓRIA NÃO ESCONDE
A história é a narrativa dos vencedores, ensinou George Orwell, mas a vitória dos policiais sobre o governo não apaga os equívocos e mesmo crimes havidos no processo. Houve motim, paralisação inconstitucional, quebra da hierarquia, aquartelamento. O que o Ceará viveu foi muito grave. Por um lado, a situação dos policiais era realmente precária e o erro do Estado não pode ser minimizado. Não foi dado o tratamento digno aos profissionais para que fossem feitas legitimamente as cobranças do que deles se exige. Tal regra é elementar na relação com qualquer trabalhador e é mais válida quanto maior a responsabilidade colocada nas mãos do funcionário. Todavia, justas que fossem as reivindicações, os fins não podem justificar que se use qualquer meio para alcançá-los. A lei não é valor absoluto: mais importante é o princípio de Justiça que deve fundamentar a existência da norma. Entretanto, a ninguém é dado o direito de escolher quais leis cumprir, quais não cumprir: isso é a barbárie. O governo foi obrigado a ceder. Diante da situação limite, não havia mesmo outra coisa a fazer. Isso não apaga os erros cometidos – nem dos vencidos, tampouco dos vencedores."

Érico Firmo
ericofirmo@opovo.com.br

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