terça-feira, 24 de agosto de 2010

Candidatos criticam ausência de Dilma em debate católico



O debate das emissoras Canção Nova e Aparecida contou com perguntas sensíveis à doutrina Católica, como aborto e homossexualismo

Principal ausência no debate entre os presidenciáveis promovido pelas redes de TV católicas Canção Nova e Aparecida, a candidata Dilma Rousseff (PT) recebeu pesadas críticas dos adversários. Segundo Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL, a ausência da petista significa “arrogância e prepotência da candidata que acha que já ganhou as eleições”.

"Dos quatro candidatos, só ela que não podia deixar de estar aqui", disse Plínio. "O meio cristão sabe muito bem quem é José Serra, quem é Marina e os bispos e padres aqui também me conhecem. Mas essa senhora (Dilma) é uma incógnita. Não sabemos quem é. Foi inventada pelo Lula e foge do debate", atacou.

Além do candidato do PSOL, o presidenciável José Serra (PSDB) também centrou críticas à Dilma no final do debate. Segundo o tucano, a ausência da petista é reflexo da dificuldade que ela tem de dizer o que de fato pensa. “O prejuízo é da população, que perde uma possibilidade de comparação. A ausência dela é por não querer se explicar ou dizer o que pensa. E porque esse não é o rumo que eles (PT) deram a campanha dela, de apresentação clara de propostas, de ideia e de debate”, afirmou Serra.

Avessa a críticas, a candidata do PV, Marina Silva, não polpou a adversária desta vez. Ela se disse muito chateada ao saber que Dilma estava postando mensagens na rede de microblog Twitter no horário do debate. “Procurei ser muito respeitosa com a sua ausência. Mas lamento profundamente que ela não tenha respeitado a nossa presença. Foi enviado uma justificativa de que havia problema de agenda e agora nós sabemos que ela estava twittando. Eu gostaria de que tivesse pelo menos o respeito com a nossa presença”, reclamou Marina.

A postagem de mensagens de Dilma no Twitter foi tema até mesmo dentro do debate. Ao saber que a rival estava usando a internet no horário do encontro, Plínio de Arruda Sampaio fez questão de ironizar a petista. “A candidata do governo é que deveria estar aqui defendendo o plano. Mas ela não está. Sabem o que ela está fazendo? Twittando...”, comentou o candidato socialista ao responder uma pergunta sobre o Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH).

Presentes em peso no evento, bispos, padres e freiras católicas ocuparam toda a parte central do auditório, enfileirados nas primeiras poltronas do bloco. A cada resposta mais ríspida dos candidatos, eles olhavam com ar de reprovação e até balançavam a cabeça negativamente, comentando uns com os outros a postura dos presidenciáveis.

A presença da alta hierarquia católica no Brasil chamou atenção até do candidato José Serra, gerando comentários ao término da transmissão. “A presença da alta hierarquia da igreja e o olhar compenetrado deles gerou uma tensão que me chamou atenção até aqui do estúdio”, disse o tucano. Na passagem do terceiro para o quarto bloco, porém, Serra saiu da bancada e foi cumprimentar uma a uma as freiras que ocupavam a fila do gargarejo.

Questões polêmicas

Presente no evento, dom Odilo Pedro Scherer, Cardeal Arcebispo de São Paulo, teve que ouvir a defesa rasgada de Plínio sobre o aborto e a condenação de Serra sobre o projeto de lei que criminaliza o preconceito contra homossexuais. “No Brasil tem até esquadrões para matar, torturar e perseguir pessoas que tem preferência pelo mesmo sexo. Isso é crime. Que uma religião não aceite a ideia do homossexualismo, que considere que deve pregar ou falar contra essa prática, é uma coisa. Outra coisa é a questão social que está envolvida, que é a da humilhação e da discriminação”, afirmou o tucano.

Ao ser questionado sobre a distribuição de material preventivo contra doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) que preguem a fidelidade e a castidade, Serra deixou claro que é a favor da monogamia e contra o sexo precoce. “Tem 30 mil crianças no Brasil que nascem de mães de até 12 anos de idade. Não terei o menor problema em me manifestar contra o sexo precoce e a favor do monoganismo, que ajudam a diminuir o problema”, declarou.

Nervosismo e ironia

Mais comedida e com posições mais conservadoras alinhadas com a Igreja Católica, a candidata Marina Silva voltou a defender o plebiscito para o aborto. Abusando dos termos religiosos, ela disse que é preciso fazer um debate sério no Brasil sobre o assunto, mesmo ela sendo pessoalmente contra. “O debate precisa ser aberto, sem preconceito ou satanização de quem é contra ou a favor”, ressaltou a presidenciável, que é evangélica da Assembleia de Deus.

Aparentemente nervosa, Marina deve muita dificuldade nos dois primeiros blocos de responder as perguntas no tempo estipulado de dois minutos, quase sempre deixando de concluir o raciocínio. Ao ser rotulada pela segunda vez de "ecocapitalista" por Plínio, a candidata rebateu forte: “Não estamos em uma guerra entre o mal e o bem. O mundo é mais complexo do que isso. Temos que evitar a satanização através dos rótulos, que é o argumento de alguém que não quer debater, mas só rotular. Chamar de ecocapitalista evita o debate”, defendeu-se.

A monotonia do debate foi quebrada várias vezes por Plínio de Arruda Sampaio, que mais uma vez roubou a cena com piadas e comentários maldosos contra os adversários. Além das críticas diretas à Dilma, o candidato do PSOL chamou a construção da hidrelétrica de Belo Monte de “bolsa-empreiteira”e desqualificou a ideia de criação do Ministério da Segurança Pública, defendida por Serra e Marina. “Não é violência que acaba com a violência. O que acaba é a cidadania. É a terra, o trabalho e um teto para morar para todos”, afirmou Plínio.

Apesar de ausente, Dilma Rousseff foi convidada para participar do evento, mas não compareceu alegando problemas de agenda. Mesmo longe, a candidata petista foi alvo de uma manifesto distribuído ao final do evento, em que religiosos contestam a posição do PT sobre o aborto. O manifesto é assinado pela "Comissão em Defesa da Vida", órgão ligado à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), mas foi articulado por dom Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo de Guarulhos (SP) que já tinha publicado um artigo pregando o boicote à candidatura da petista.

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